23 Dezembro 2024

A reconstrução da Síria requer muito mais do que tijolos e argamassa opinião

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Reconstruir a Síria depois de mais de uma década de conflito devastador não é uma tarefa fácil. A destruição da infra-estrutura física do país, da governação e do próprio tecido social que outrora manteve o seu povo unido. Embora o sonho de uma nova Síria próspera, forte e unida após a queda do regime de al-Assad seja certamente realizável, certas condições devem ser satisfeitas antes que o país possa ressurgir das cinzas.

Em primeiro lugar, deve ser formado um governo de transição cuja autoridade seja aceite por todas as partes interessadas para garantir uma transição suave para a democracia. Qualquer esforço de reconstrução só poderá ter sucesso se for liderado por um governo inclusivo e estável que tenha reconhecimento internacional e a confiança do povo sírio. Uma nova Síria não pode ser criada sem um novo contrato social que defenda os direitos humanos, a democracia e o Estado de direito. A elaboração deste acordo exigirá a sabedoria colectiva das mentes mais brilhantes e dos líderes intelectuais da Síria, bem como o apoio genuíno da comunidade internacional. Uma transição liderada exclusivamente pelos sírios, mas totalmente apoiada por organizações internacionais através da partilha de conhecimentos especializados e da prestação de assistência técnica, poderia garantir uma reconstrução bem sucedida.

Este esforço será um desafio e o caminho para a sua concretização estará provavelmente repleto de obstáculos, uma vez que o actual cenário político permanece fragmentado, sem um caminho claro para um governo estável e plenamente representativo. Sem isso, porém, os esforços de reconstrução podem tornar-se mais uma ferramenta para aprofundar as divisões, em vez de as curar.

Em segundo lugar, a estabilidade do Estado sírio e a segurança do seu povo devem ser garantidas. Um país sob ataque e cheio de conflitos não pode ser reconstruído de forma eficaz. Os ataques aéreos israelitas em território sírio e mais apropriações de terras desde a queda do regime de al-Assad alimentaram a instabilidade. Estas operações não só destroem infra-estruturas, mas também desmoralizam as comunidades e comprometem as esperanças de uma rápida reconstrução e recuperação.

A comunidade internacional está de olho na nova liderança da Síria para garantir uma transição harmoniosa, que deve enviar uma mensagem clara e forte a Israel. A mensagem deveria condenar veementemente as ações de Israel e exigir a sua cessação imediata. A comunidade internacional deve deixar claro que tal comportamento é inaceitável e deve parar imediatamente. A estabilidade não é apenas a ausência de guerra; Trata-se de criar um ambiente onde as pessoas se sintam seguras para reconstruir as suas vidas e investir no seu futuro. A última coisa que os sírios precisam nesta conjuntura crítica é de uma nova frente de guerra que criará toda a incerteza e instabilidade para um novo governo de transição.

Terceiro, as sanções internacionais devem ser levantadas para que o país possa recuperar-se. As leis de César, em particular, que paralisaram a economia síria e tornaram quase impossível atrair investimento estrangeiro, devem ser revogadas. Estas sanções, destinadas a pressionar o governo anterior a reformar os direitos humanos e a aliviar a repressão, também tiveram um impacto significativo na vida dos cidadãos sírios quotidianos, aprofundando o seu sofrimento e desespero.

A incerteza sobre a nova liderança da Síria pode fazer com que a comunidade internacional hesite em levantar totalmente as sanções. No entanto, uma abordagem mais sutil pode ser adotada. Em vez de sanções gerais, poderia ser implementada uma estratégia específica que envolvesse o alívio das restrições à dinâmica comunidade empresarial e ao sector privado da Síria. Isto contribuirá para a estabilidade a longo prazo da Síria e acelerará a reconstrução. Entretanto, sanções específicas contra funcionários governamentais específicos podem ser utilizadas como uma ferramenta para encorajar uma transição positiva, se necessário. Esta abordagem equilibra a necessidade de cautela com o imperativo de recuperação e reestruturação económica.

Quarto, a sociedade civil deve ser capacitada para desempenhar um papel activo no processo de reconstrução. Os órgãos locais independentes devem estar estreitamente envolvidos em todos os esforços de reestruturação, garantindo transparência e responsabilização. A Síria nunca teve uma sociedade civil independente sob o domínio da família Al-Assad. Anos de governo com mão de ferro corroeram as iniciativas lideradas pela comunidade, deixando uma sociedade mal equipada para uma participação pública significativa. No entanto, durante os períodos de transição e de reestruturação em grande escala, as organizações de base que defendem a justiça e garantem que a ajuda chega aos necessitados têm um papel importante a desempenhar. Sem eles, o processo de reconstrução corre o risco de ser contaminado pela corrupção e pelo favoritismo. O novo regime da Síria deve dar prioridade ao apoio e ao fortalecimento da sociedade civil síria para garantir uma reconstrução saudável e bem-sucedida.

A reconstrução da Síria não é apenas uma questão política – é também um puzzle técnico complexo. O país precisa de pessoas com conhecimento técnico e experiência para poder desenvolver planos de reconstrução a longo prazo, executar orçamentos e lidar com os obstáculos que inevitavelmente surgem em projectos de reconstrução complexos. Mas aqui está a parte complicada: deveriam os novos líderes da Síria aproveitar a sabedoria dos antigos responsáveis ​​do regime? Estes funcionários e funcionários públicos possuem conhecimentos privilegiados valiosos, mas a sua relação com o governo acusado de actos terríveis pode fazer com que um grande segmento da população perca a fé em todo o processo. Encontrar o equilíbrio certo é crucial. Os esforços de reconstrução devem incluir todos os sírios, e especialmente os mais afectados pela guerra – mulheres, crianças e grupos minoritários. Isolar qualquer grupo, dando demasiado poder àqueles que têm laços estreitos com o antigo regime, não só seria errado, mas também seria uma forma segura de reacender as tensões e destruir qualquer esforço de reconstrução antes que este possa realmente começar.

A reconstrução da Síria também será cara. Quem vai pagar por tudo isso? A nova liderança da Síria não pode fazer isto sozinha, usando apenas o que está nos cofres do Estado. Uma coligação de doadores internacionais, incluindo agências da ONU, deve fornecer ao país um financiamento maciço. Mas só abrirão as suas carteiras se houver um governo em que as pessoas confiem. Os doadores precisam saber que seu dinheiro não será desperdiçado ou roubado. É também importante garantir que a ajuda à Síria não seja fragmentada ou motivada politicamente. Os doadores que vinculem a ajuda às suas próprias exigências e prioridades políticas só levarão a esforços desperdiçados, a lacunas na ajuda e a mais desconfiança. O que é necessário é uma abordagem unificada que dê prioridade às necessidades reais do povo sírio e não permita que os esforços de ajuda se transformem num jogo político. A Síria poderia beneficiar se acolhesse uma conferência de reconstrução abrangente, permitindo aos doadores internacionais e ao novo governo sírio consolidar as prioridades de reconstrução, assegurar uma cooperação transparente e começar a reconstruir as infra-estruturas e o tecido social do país.

Finalmente, a educação será crucial para reconstruir a Síria num país vibrante, inclusivo e próspero. Um sistema educacional forte constrói uma sociedade que valoriza os direitos humanos, o envolvimento comunitário e a justiça. Só investindo na educação e no envolvimento comunitário a Síria poderá curar o seu tecido social e nutrir uma geração que escolhe o diálogo e a cooperação em vez do conflito.

O aspecto mais importante da reconstrução da Síria será a reconstrução da sociedade síria. Afinal, por trás de todo o material tecnológico estão pessoas reais – famílias que perderam entes queridos que foram encarcerados, crianças que ficaram sem educação, comunidades inteiras sofrendo traumas. A reconstrução não consiste apenas em consertar estradas, casas, escolas, hospitais; Trata-se de devolver às pessoas a dignidade e a esperança. Os sírios precisam de sentir que a sua situação não é em vão, que têm uma palavra a dizer sobre o futuro do seu país e que os dias que se avizinham são mais do que perdas e conflitos.

A reconstrução da Síria levará tempo e exigirá a dedicação de todas as partes interessadas. Não se trata apenas de construir – trata-se de reconstruir a confiança, incluindo todos os envolvidos no processo, e garantir que as pessoas sejam responsabilizadas. A jornada que temos pela frente é longa, mas com as bases certas, há esperança de que a Síria possa voltar a ser um país próspero e resiliente. Este é um desafio importante para os sírios e para todos nós.

As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a posição editorial da Al Jazeera.

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